Fernanda França
É... a vida tem dessas coisas...
Sinto saudade de todas as folhas que vejo se despedir com leveza das árvores, mesmo nunca sabendo ao certo o quanto elas queriam ficar, ou se preferiam partir.
Sinto muito por àqueles que tenham perdido a coragem no momento do pulo, porque eu já me joguei daquele terraço do Palace Hotel, que até hoje não fui. Sei que no "quinto andar" deste prédio, ainda há um hóspede insistente que nunca foi embora. (E nem sei se um dia irá)
Esta semana visitei os mortos que, embora esquecidos, permanecem vivos.
E sinto que hoje já não sou mais uma. 
Mas, "dois".


Fernanda França

Disritmia era como poderia ser intitulada a semana que se passou.
Ela para e pensa, tentando entender tudo o que acontecera.
Respira.
Tenta.
Não pira.
Se inspira.
 E volta a disritmia a prevalecer sobre ela.
Seus sonhos ela já desconfia que não lhes pertencem mais, apenas reza baixinho e em segredo para que ninguém os descubra. A cada noite eles se manifestam mais fortes e novamente ela acorda com aquela disritmia que lhe tira o fôlego, e a faz temer que alguém possa tê-los visto fugindo pela janela.
Pela manhã, ela, novamente, respira, e não pira. Sufoca em silêncio tudo o que parece explodir. Seu sangue jorra com velocidade, fruto de pequenos deslizes de uma ansiedade que não para.
O esforço continua...
Tenta se acalmar, afugentar os devaneios e se manter no caminho programado.
Fernanda França

Tá rosa de quente
Tá branca a solidão.

Azul multidão,
Sussurra em um grito:
Tá frio que queima
Tá sem emoção.

É clara a ilusão
Que a cidade alerta:
Tá nuvem de asfalto
Riacho de pedra.

Sem muita paixão
Esvaem-se os dias

Finda-se julho 
Sem mais fantasias.
Fernanda França

Estava de passagem. Nenhuma novidade, sempre os mesmos posters, tudo cinza, tudo igual, quando algo a chamou atenção. Parecia uma luz, dessas que tem sonoridade. Isso fez com que ela parasse, res-pirasse fundo e sentisse algo a aquecê-la por dentro. Não era nada perceptível, era seu segredo. Não pretendia incomodar a ninguém, estava só de passagem.
Sentiu-se feliz por achar ver reciprocidade em alguma loucura que parecia pertencer apenas a ela.
Neste dia, ela não estava disposta a se por a sofrer relendo histórias antigas, noticiadas em jornais não lidos, como costumava a fazer todas as quartas-feira.
Hoje, ela estava de passagem.
O tempo que passava sussurrou-lhe : -Corra! Corra!
Apesar de tudo, não sentia o desejo de entorpecesse como era comum nas quintas, mas mesmo assim, foi atrás de sua taça de vinho, sempre a boa companheira de noites como aquela, quando algo misterioso a surpreendia.
Já estava mergulhada em lembranças de infância, quando percebeu que ainda era terça-feira e que não adiantava esperar por mais. As terças são sempre simplórias.
Então, sem mais, ela simplesmente passou.
Fernanda França
Ele falava em frio e não sabia quanto queimava aquele silêncio típico das noites de julho. Todos os fogos já pareciam ter explodidos, com exceção daqueles que as crianças ainda soltavam, pois elas teimavam em não deixar os festejos acabar. 
Afinal, criança é assim mesmo; sente demais, ama demais e não deixa o bom acabar tão rápido, mesmo quando se é preciso, elas reinventam mundos fantásticos para manter suas fantasias sempre vivas.

Que criança lembraria de calçar sandálias, ou se importar com roupa durante uma brincadeira (lembrando que brincadeira para elas é coisa séria)? Como elas iriam lembrar do frio, em meio a toda excitação de sentimentos? E quanto tempo o silêncio resistiria? 
Inconsequentes, seguem seus sonhos. 
Por hora criam heróis, em outro momento os transformam em bandidos. Algumas vezes amam, em outras, odeiam (aquela birra passageira, típica delas). E assim seguem vivendo intensamente, cada dia, em seu mundo feito de algodão doce, sempre torcendo para que nada disso acabe.
Fernanda França

Ela acorda e sempre a mesma música a vem perturbar.
Talvez seja o seu desejo de fugir do mundo que a levava a escutar sempre a mesma canção.
Ela escuta a melodia e se deixa embriagar por aquelas letras que faziam passar um filme em sua mente. Ela delira e canta como se estivesse confessando para alguém seus desejos mais profundos. Canta de olhos fechados como se pudesse transcender, ser levada dali para algum lugar mágico, onde os sonhos se tornam realidade. Por um momento, sem querer, abre os olhos e percebe que ainda está tudo no mesmo lugar, como se quisesse voar pela melodia daquela música, volta a fechar os olhos e se vê, novamente, envolta em seus desejos.
Ao sentir seus sonhos ali tão clarificados se sente hipnotizada, uma sensação de leveza e calma se apossa de seu coração, mas a música já dá sinais que vai acabar.
Chora por mais um pouco de ópio para neutralizar a dor.

Abre os olhos e volta a trabalhar. 
Fernanda França
A gente tenta.
A gente tenta seguir e não parar,
não olhar para trás
e simplesmente seguir.

Mas uma hora ou outra...
As folhas caem,
o sorriso se faz
e se desfaz

A vida segue.
Não para.

A vida segue:
incrédula,
impiedosa,
insana.

A vida segue.
Por favor,
A vida cegue.
Fernanda França

Ela não sabe o que uma imagem pode representar.
Ela não sabe que não percebo o cenário, nem as companhias, e que nada do que vejo pode me causar dor.
Vejo apenas o que meu coração quer ver.
Quer saber o que vejo?
Vejo que tudo esta bem e sinto-me tranquila.
Vejo apenas um sorriso, muitas vezes contido, às vezes largo, dizendo: “por aqui está tudo bem.”
E me sinto feliz por isso.
Por algo tão simples...

Uma  simples imagem que dá esperança de que todos possam ser felizes, apesar da vida ser tão pesada e tão estranha.