Fernanda França

Estava de passagem. Nenhuma novidade, sempre os mesmos posters, tudo cinza, tudo igual, quando algo a chamou atenção. Parecia uma luz, dessas que tem sonoridade. Isso fez com que ela parasse, res-pirasse fundo e sentisse algo a aquecê-la por dentro. Não era nada perceptível, era seu segredo. Não pretendia incomodar a ninguém, estava só de passagem.
Sentiu-se feliz por achar ver reciprocidade em alguma loucura que parecia pertencer apenas a ela.
Neste dia, ela não estava disposta a se por a sofrer relendo histórias antigas, noticiadas em jornais não lidos, como costumava a fazer todas as quartas-feira.
Hoje, ela estava de passagem.
O tempo que passava sussurrou-lhe : -Corra! Corra!
Apesar de tudo, não sentia o desejo de entorpecesse como era comum nas quintas, mas mesmo assim, foi atrás de sua taça de vinho, sempre a boa companheira de noites como aquela, quando algo misterioso a surpreendia.
Já estava mergulhada em lembranças de infância, quando percebeu que ainda era terça-feira e que não adiantava esperar por mais. As terças são sempre simplórias.
Então, sem mais, ela simplesmente passou.