Ela acorda e sempre a mesma
música a vem perturbar.
Talvez seja o seu desejo de
fugir do mundo que a levava a escutar sempre a mesma canção.
Ela escuta a melodia e se deixa
embriagar por aquelas letras que faziam passar um filme em sua mente. Ela
delira e canta como se estivesse confessando para alguém seus desejos mais
profundos. Canta de olhos fechados como se pudesse transcender, ser levada dali
para algum lugar mágico, onde os sonhos se tornam realidade. Por um momento,
sem querer, abre os olhos e percebe que ainda está tudo no
mesmo lugar, como se quisesse voar pela melodia daquela música, volta a fechar
os olhos e se vê, novamente, envolta em seus desejos.
Ao sentir seus sonhos ali tão
clarificados se sente hipnotizada, uma sensação de leveza e calma se apossa de
seu coração, mas a música já dá sinais que vai acabar.
Chora por mais um pouco de ópio
para neutralizar a dor.
Abre os olhos e volta a
trabalhar.