Fernanda França
("Morte e Vida" G. Klimt, 1915)

Na antevéspera de Natal, data comemorada por alguns como nascimento, a morte se anuncia.
Acredito que a morte seja algo triste, por isso, nunca a desejei, mas também, nunca a temi.
Vivemos tentando não pensar nela, mas ela segue sempre se apresentando a todos, para nos mostrar nossa finitude... Logo nós, que agimos como quase deuses! Ela se mostra, e nos impõe sua fria realidade... Tudo é passageiro, efemeridades, fluidez...
***

E, assim, como a morte se anuncia para a vida, fechamos os ciclos do tempo, mais um ano falece, sendo chamado de velho após 365 dias, levando consigo um monte de vida e sonhos, além de encerrar planos e expectativas. Alguns vezes damos o próxima passo satisfeito com o que realizamos, outras vezes, temos a chance de tentar de novo, ano que vem, no Novo.
E... Para quem reclama que vida só se tem uma, pensemos nos anos como oportunidades de escolher que vida vamos seguir.
Pensemos que, como diria um senhor amigo meu, vamos emplacar mais um ano! Ser-se-ão 365 dias? Nunca se sabe... Mas, vamos rir da morte, que por mais que ela insista em se anunciar, a vida vai pulsar até o último suspiro.
Este ano a morte não vai mais me levar! 2011 já se dá por vencido, e ela que o leve satisfeita e me deixe os queridos, os amados, os indispensáveis.
Após 31 de dezembro, varro a morte das minhas lembranças, e nos tornamos novamente imortais junto com o novo, com o que vêm cheio de vida, junto com as novas vidas e os novos sonhos...

(Iniciei esse texto triste com as mortes e doenças de pessoas queridas, mas hoje o concluo feliz pensando na vida, e na beleza da vida que recheia os filhos dos meus amigos e das crianças que estão nascendo, pode parecer bobagem, mas talvez possa resumir em: ESPERANÇA.)
Fernanda França

Sua mãe já dizia: “Menina, não brinca com fogo, que você se queima!”
Mas ela o achava tão bonito! Como evitar em brincar!
Não havia risco que não gerasse nela um misto de medo e prazer pela aventura.
O problema é que nem tudo é controlável, nunca se sabe o que se pode resultar em tentar pôr à prova os limites do controle das nossas pulsões.

***
Assim, um dia ...
Chegou em casa de uma carreira que deu...
Não acreditou que havia perdido o controle. Seu corpo tremia, não sabia se de medo, alegria ou tristeza. Mas, algo tremia dentro dele pedindo para sair, querendo saltar das amarras do corpo e do ego.
Fugir... 
Talvez, melhor que esperar as amarras desatarem seja fugir e não olhar para trás.
Mas...
Quem resistiria a não ver o que há por trás da máscara?
O quê ela viu?! - Não se sabe.
É muito infância para relatar...
Fernanda França

Às vezes o quase pode ser bom.
O não dito.
A vontade que vem e não vai, fica em suspenso...
A sensação de frio na barriga, como em uma roda gigante que nos suspende, mas não deixa nossos pés tocarem o chão na descida... 
Nos põem flutuando...
Gosto dessa sensação mais que tudo!
É como um sonho em vida real! Nada faz sentido, mas as sensações são inebriantes! Por isso gosto tanto de sonhar... Sai-se um pouco do sistema, da lógica, do controle (o mais perverso - autocontrole!).
Fica-se assim...
No quase tocar, por que se pode perder a magia ao se possuir.
Acredito que seja esse o sentimento, de buscar o inatingível que nos move, nos faz continuar...
Não parece nada concreto, são só idéias, desejos, sonhos, sensações, que talvez nunca se alcance, mas que com certeza fazem o mundo girar.
Fernanda França
A tristeza pode ser uma inspiração... Sempre a temos guardada em algum lugar, que pode se manifestar por uma lembrança, um gesto rude, uma palavra grosseira, ou simplesmente, pelas coisas terem saído do nosso controle, dos nossos planos. Vira e meche, e ela acaba reaparecendo... Acredito que vivemos tentando ignorá-la.
Ignorar os motivos pelos quais poderíamos ficar triste é sempre uma boa opção, apesar de nem sempre conseguirmos fugir dela. Nesses momentos, o que nos resta é encará-la e torná-la uma bela canção (Claro! Para quem tem talento para isso, os pobres mortais podem torná-la uma boa forma de reflexão!).
–Onde é mesmo que estou errando? Talvez possamos começar por aí. E de repente, transformá-la em atitude, ou numa ideia de atitude que deixará nossa alma mais tranqüila, mais leve.
O bom é saber que nem sempre nossa tristeza vem despropositada, e que nem sempre ela é incompreensível pelo outro, nem que esse outro seja um bichinho que lhe olha como se entendesse tudo que você estava sentindo (Conselho: adote um bicho! Sua vida tende a ser mais feliz!) e aquilo (de alguma forma) te incentiva a fazer algo.
Chorar só não basta! O melhor do choro é a hora de secar as lágrimas.
Então... Sequemos. 
Fernanda França


Lá vem o menino chorando seus amores...
-Por que ela não me aceita do jeito que sou?
-Por que ela insiste em anel, vestido e bolo?
-Por que ela não enxerga minh’alma leve?
-Pra quê tantas convenções?
-Posso amá-la imensamente enquanto durar esse amor, e quem sabe não dure para sempre?
Mas ela insiste em anel, vestido e bolo. Não pensa a menina que o anel pode enferrujar no outro dia, o vestido manchar e o bolo estragar antes de esfriar...
Pobre menina! Não vê que ele oferece a certeza de uma aventura de palpitar coração, para ser vivida hoje! Agora!
Amanhã... Já não se sabe.
E quem garante menina, que tu vai viver para anel, vestido e bolo? A única garantia é que abres mãos de uma paixão...
Fernanda França

Sempre há uma grande distância entre o ter e o desejar, simplesmente, não temos tudo que desejamos.
Mesmo quando se deseja algo com paixão, quando se tem o corpo ardendo em impulso, se for possível parar e pensar...
Poder raciocinar nesta hora parece amargo como fel, mas vem como remédios que adocicam diante do mal sanado.
Definitivamente, não é uma escolha fácil, mas quem já cometeu vários erros sabe a importância do amargo.
Um erro e tudo que é doce acaba...
Fernanda França
Renoir

"Presépio"

“Dasdores (assim se chamavam as moças naquele tempo) sentia-se dividida entre a missa-do-galo e o presépio. Se fosse à igreja, o presépio não ficaria armado de meia-noite, e, se se dedicasse ao segundo, não veria o namorado.
É difícil ver namorado na rua, pois moça não deve sair de casa, salvo para rezar ou visitar parentes. Festas são raras. O cinema ainda não foi inventado, ou, se foi, não chegou a esta nossa cidade, que é antes uma fazenda crescida. Cabras passeiam nas ruas, um cincerro tilinta: é a tropa. E viúvas espiam de janelas, que se diriam jaulas.
Dasdores e suas numerosas obrigações: cuidar dos irmãos, velar os doces de calda, pelas conservas, manejar agulha e bilro, escrever as cartas de todos. Os pais exigem-lhe o máximo, não porque a casa seja pobre, mas porque o primeiro mandamento da educação feminina é: trabalharás dia e noite. Se não trabalhar sempre, se não ocupar todos os minutos, quem sabe de que será capaz a mulher? Quem pode vigiar sonhos de moça? Eles são confusos e perigosos. Portanto, é impedir que se formem. A total ocupação varre o espírito. Dasdores nunca tem tempo para nada. Seu nome, alegre à força de repetido, ressoa pela casa toda. “Dasdores, as dálias já foram regadas hoje?” “Você viu, Dasdores, quem deixou o diabo desse gato furtar a carne?” “Ah, Dasdores, meu bem, prega esse botão para a sua mãezinha.” Dasdores multiplica-se, corre, delibera e providencia mil coisas. Mas é um engano supor que se deixou aprisionar por obrigações enfadonhas. (...)
(...) Dasdores sente-se livre em meio às tarefas, e até mesmo extrai delas algum prazer. (Dir-se-ia que as mulheres foram feitas para o trabalho... Alguma coisa mais do que resignação sustenta as donas de casa.) Dasdores sabe combinar o movimento dos braços com a atividade interior – é uma conspiradora – e sempre acha folga para pensar(...)” em algo mais.
(ANDRADE, Carlos Drummond., “Presépio” In. Contos de aprendiz, RJ:Civilização Brasileira, 2006)
Fernanda França

Fazer o curso de Ciências Sociais acaba sendo inevitável que se tenham certos tormentos especiais, que precisemos enfrentar fantasmas. Pois, é praticamente impossível se ver distanciado e anestesiado das leituras, e que elas não nos inquietem a alma. Principalmente, por estarmos trabalhando com nossas mentes, nossa sensibilidade, junto com nossos sentimentos mais profundos, os nossos poderes visionários e imaginativos, ou seja, virtualmente com todo o nosso ser.
Como, por exemplo, as leituras de hoje, da aula sobre Marx, “um mestre de uma prosa apaixonada” como diria Hobsbawn, me deixou, mais uma vez, completamente atormentada com o diluir da vida moderna.
Pois hoje, concordo plenamente com a necessidade de pensarmos a democracia para que se faça como o melhor governo possível, acredito que os direitos individuais devem ser garantidos. Além de um arcabouço de ideias liberais...
Logo eu, que fiz parte da esquerda mais ortodoxa, daquela que por mais que eu faça hemodiálise diariamente, não consigo retirá-la de mim, que penetrou na minha personalidade e que por mais que eu timidamente negue, ela está lá...
Quando eu me imaginaria fazendo críticas a Marx? (por muito menos, muitos foram parar no paredão!). Como posso tentar conciliar o ideário liberal com as ideais comunistas?
Vi-me, hoje, no meio daquele debate, me desmanchando no ar...
Fernanda França

   Há quem goste de chuva em qualquer hora...
No momento, prefiro esperar a chuva passar.
Tive uma vontade imensa de tomar banho de chuva, mas logo se foi.
Melhor esperar a chuva passar.
Desconfio que vá virar tempestade... Mas se virar a culpa é da Fortuna! Aquela a qual existe, mas preferimos seguir nossas vidas sem pensarmos nela. Fazemos nossos planos como se ela não existisse, mas quando menos esperamos, ela se manifesta. E aí... Vira tempestade!
Mas...
Por enquanto, prefiro esperar a chuva passar.
Fernanda França
"Insatisfação crônica"-
 Penelope Cruz em "Vick Cristina Barcelona"

Melhor seria não esperar...
Melhor seria acabar com a espera não esperando...
É estranho sentir falta de algo quando não se estar vazio...
A vida é tão estranha, tão perigosa e imprevisível...
Quanto tempo se pode esperar por algo que não se sabe o que é?
Talvez seja melhor não descobrir.
Estou tão Felizzz...
Por que a insatisfação faz parte da minha natureza?
Bem...
Naturezas foram feitas para serem domadas...
Fernanda França


Quando era criança, sempre que queriam me arrumar namorados, ou especular casamentos, eu sempre dizia que iria ser solteira “igual à tia Maria”. Mas, quem me dera ter um coração auto-suficiente e moderado, ou até mesmo, aqueles que aprendem com as pancadas da vida...
Nada disso. Possuo (ou sou possuída) daquele tipo de coração meio burro, meio teimoso e completamente seqüelado (sei que não se usa mais o trema, mas acho-o charmoso demais para ser banido da minha escrita). Desses, que penso não serem muito raros, que desde o primeiro momento em que experimentam a paixão, enlouquecem e ficam viciados a nunca mais querer viver sem ela. Assim, vivem apaixonados. Não é exagero! (apesar de o exagero ser componente fundamental dos corações apaixonados).
Desde então, em vários momentos perco completamente o controle sobre este coração, e sou levada a fazer coisas das quais jamais imaginaria, e algumas das quais não aprovo. Ele no controle, já se apaixonou diversas vezes, e em algumas a paixão se desfez na mesma velocidade em que se realizou, já teve duas paixões, inventou paixões, seguiu paixões em forma de idéias, já matou paixões e as fez renascer. 
Mas tudo isso não quer dizer nada... Afinal, quantos corações não agem desse jeito? -Todos os inconseqüentes, insistentes em se fazerem vivos e não se deixarem dominados. Talvez por serem assim inconstantes deveriam se fazer solitários. E eu possuindo um coração desse tipo cumpriria minha ilusão infantil. Eu nunca me casaria...
- Não quero me casar, não vou me casar, não gosto nem da idéia... (afirmação de quem conheceu muitos casamentos infelizes).
Mas quem disse que meu coração queria viver só... Sempre adorou companhia...
Quando pensei que já havia o visto fazer de tudo... Ele inventa de viver constantemente apaixonado pela mesma pessoa, ao longo dos anos sem interrupções.
É... Em coração não se manda, se vive.
Fernanda França

Estamos vivendo um momento ímpar da história do Brasil. Temos uma mulher ocupando o maior cargo do Executivo, a presidência da República. Lembrando que a posse dessa mulher foi apresentada pela mídia com grande estardalhaço, não por se estar empossando uma mulher presidente, mas por haver uma ex-miss na posse, como se isso não fosse ato corriqueiro... Ignorando o fato histórico que ali se processava. Estávamos empossando uma mulher à presidência da República! estávamos empossando um ex-guerrilheira! Uma mulher, que ao contrário da ex-miss, tinha dedicado toda a sua juventude a construir um país mais democrático em tempos pesados de repressão e ditadura.
Não espero estar fazendo aqui uma ode à presidente, ou presidenta, como queiram as feministas de plantão. Não sou petista, nem tampouco me julgo feminista. Mas, fico revoltada em pensar que ao longo de tantas histórias de luta pelos direitos igualitários entre homens e mulheres, os direitos das mulheres possam estar tão distantes do desejado.
O “08 de março” foi constituído como data, após uma série de lutas feministas. E, fato é que hoje há uma data em que as mulheres de todo o mundo deveriam refletir e se organizarem contra os abusos que ainda sofrem. Seja o estupro corretivo, aplicado as mulheres homossexuais, em certos países africanos; a Burca; a morte por apedrejamento; excisão feminina ou mutilação genital feminina; a criminalização do aborto; etc. Não devemos nos contentar com flores, jantares e “parabéns” ditos sem grande significado. Acredito que essa data deva servir para exigir dos governos explicações sobre o porquê, se estamos hoje em situação de igualdade perante os homens, vemos as estatísticas absurdas de violência contra as mulheres? Devemos questionar por que aqui no Brasil, várias mulheres são assassinadas por seus companheiros, mesmo depois de terem ido várias vezes às delegacias e feito denuncias contra seus agressores? Por que os estupros são atos corriqueiros em violência contra a mulher? E, ainda tratado com menosprezo nas delegacias comuns, diante do pequeno número de delegacias da mulher.
A verdade é que nós estamos longe de uma situação de igualdade, e isso é preciso ser discutido e rediscutido mil vezes. Podem até me acusar de feminista, mas ainda, não conseguimos por em prática a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, de Olympe de Gouges escrita em 1791!
O “08 de março” deve ser um dia de luta contra todas as formas de violência contra as mulheres. E de luta por direitos iguais, institucionais, políticos e reprodutivos. Fala-se muito do dia Internacional das Mulheres, muitas comemorações, muitas flores, sem uma real preocupação em saber pelo que, de fato, anseiam essas mulheres. Esquecem que o primeiro bem inalienável que todo indivíduo possui, é o direito de seu próprio corpo, direito que tem sido negado às mulheres. Pois, se o governo garante que posso vender a minha força de trabalho por um salário, também, deve garantir que minha escolha sobre a minha reprodução seja legítima.
Espero que esse “08 de março” possa ser refletido e direcionado para uma configuração real dos Direitos da Mulher.
Fernanda França
   Em pleno domingo de Carnaval, uma criatura não se continha tendo que pular em um local apertado e que ninguém poderia ver a alegria que exorbitava dela. Assim, como não poderia deixar de ser, ela pulou e gritou o mais alto que pode, até se fazer nascer.
    Nasceu... tão agitada! tão cheia de vida! que alguns médicos quase a mataram tentando fazer acalmar aquela pequena criatura, pois nunca haviam visto tanta vida em corpo tão pequeno. Mas, logo ela se recuperou do ocorrido, e disseminou alegria e vida em todos que a cercavam, com seus um milhão de "porquês", com sua pressa em liderar, nas idas e vindas dos paços da dança se fez bailarina, como forma mais próxima de alcançar sua essência de fada.
     Cresceu...
    Não se fez amadurecer completamente, mas sei que vai achar o caminho das flores que desabrocham sem perder o perfume.
     Ainda há muito tempo para o Carnaval acabar! ainda é Domingo! E, há um longo caminho a percorrer...
    Enfeite-o com as flores que quiser minha querida Colombina.