Fernanda França
A sua tristeza às vezes parecia saudade, ou era a saudade que às vezes parece tristeza?
A vontade que ela sentia era de abrir o peito, se descascar e tentar ver o que estava errado.
Ela sempre se perguntava: - Será que tem algo fora do lugar? Ou será que tem algo sobrando?
-Por que as águas de Lete não vem me banhar?
 Esquecer sempre tinha lhe parecido ser tão fácil! Por que as lembranças agora a perseguiam?
Ela pensava: - Quem sabe se eu fingir esquecimento ele não se manifeste em verdade... Pode ser uma tentativa.
A questão que ficava era se isso seria capaz de acalmar uma alma.

***

Certa noite, depois de já está cansada de esperar, foi visitada por um passarinho de voz suave que lhe cantou todas as angústias de sua vida.
 Como ela queria matar aquela beleza formada por tristeza e amor!
Era uma mistura intensa de amor e raiva inexplicáveis, que se transformavam rapidamente em dor, transfigurada em lágrimas, que aquela ave bebia em goles lentos, e que apesar de achar salgada, sentia certo prazer.
Logo ela, que sonhava com nuvens de algodão doce e um céu com perfume de jasmim, sentia que não era bom sonhar com as desejadas asas.

No final da noite, o passarinho se banhava em um lago salgado.