Fernanda França
A sua tristeza às vezes parecia saudade, ou era a saudade que às vezes parece tristeza?
A vontade que ela sentia era de abrir o peito, se descascar e tentar ver o que estava errado.
Ela sempre se perguntava: - Será que tem algo fora do lugar? Ou será que tem algo sobrando?
-Por que as águas de Lete não vem me banhar?
 Esquecer sempre tinha lhe parecido ser tão fácil! Por que as lembranças agora a perseguiam?
Ela pensava: - Quem sabe se eu fingir esquecimento ele não se manifeste em verdade... Pode ser uma tentativa.
A questão que ficava era se isso seria capaz de acalmar uma alma.

***

Certa noite, depois de já está cansada de esperar, foi visitada por um passarinho de voz suave que lhe cantou todas as angústias de sua vida.
 Como ela queria matar aquela beleza formada por tristeza e amor!
Era uma mistura intensa de amor e raiva inexplicáveis, que se transformavam rapidamente em dor, transfigurada em lágrimas, que aquela ave bebia em goles lentos, e que apesar de achar salgada, sentia certo prazer.
Logo ela, que sonhava com nuvens de algodão doce e um céu com perfume de jasmim, sentia que não era bom sonhar com as desejadas asas.

No final da noite, o passarinho se banhava em um lago salgado.
Fernanda França
(Esse texto foi inspirado no suicídio de um jovem de 20 anos, aluno da escola em que dou aula. O motivo da morte foi a separação de sua ex-companheira.)





Tem dias que a saudade é de matar, e aí o que fazemos? Eu escrevo, e finjo acreditar que você em algum lugar sabe disso.
Escrevo para você, é você mesmo! E espero que as palavras toquem seu coração, ao menos um pouco... Mais ou menos assim, como você entrou  no meu e lá fez morada.
Sinto falta daquelas conversas desconectadas, sem pé nem cabeça, sem sentido e sem razão, mas que me deixava feliz.
Sinto falta do sorriso mais lindo que já vi, aquele que parecia sair direto da alma para teus lábios. E como era bom saber que alguns daqueles sorrisos eram para mim...
Sinto falta de ouvir aquele teu jeito de falar, que era tão seu, e que eu me pegava, às vezes, te imitando por achar sonoramente agradável.
Sinto falta do teu olhar, me lançando raios de desejos, que sempre me faziam suspirar... E quando você soltava os teus cabelos, sabia que era para me provocar. 
E como eu te amava!!!
Assim em segredo, nada te disse. Um dia você se foi e levou consigo todos os meus sonhos impossíveis.